terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Nosso povo, nossa história!


Quando falamos da Bonsucesso de hoje com certeza não nos lembramos de nossas tradições, daquela impressão de que o tempo parou em relação ao progresso da região. Dona Neiza, uma das mais antigas do bairro (nasceu em 29 de outubro de 1925, cresceu e aqui vive até hoje, em Bonsucesso!), da tradicional Família Marcondes, nos traz a sensação da tradição, dos costumes, de sua culinária maravilhosa,
com suas receitas e temperos, na cozinha que mantém os antigos azulejos floridos, chiquérrimos antigamente. Moradora na casa grande, ao lado direito da Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso, foi merendeira da "EEPSG de Bonsucesso" (atual E. E. Estevam Dias Tavares), no tempo em que os pais enviavam legumes de suas hortas, para enriquecer a merenda, tarefa que ela realizava com muito carinho. Tive o privilégio de presenciar várias tardes em que ela se sentava no degrau do pátio, junto a minha mãe, D. Iraci, que era cantineira, 'proseando' e, de prosa e prosa, todo legume era cortado e preparado para a merenda do dia seguinte. E que mãos de fada para cozinhar! Hoje, ela nos conta às histórias que ouvia e que o tempo (se não cuidarmos) se encarregará de apagar. Do tempo em que havia uma hospedaria em Bonsucesso (em frente da igreja) que recebia nada mais nada menos que D. Pedro, que vinha para São Paulo a galope e se instalava ali para descansar. A hospedaria, as diversas administrações municipais se encarregaram de acabar. Virou a casa dos padres. Ela chegou a trabalhar no local. Arrumava a casa dos padres_ serviço que era um privilégio na época, pois poucos dispunham da confiança do clero. Estudou até a quarta série em uma escola rural que ficava em frente de sua casa. Mesmo tendo concluído o primário, continuou na escola até os doze anos, em 1937. Quando precisou do diploma, foi encaminhada a uma escola na Praça da Sé, em São Paulo, onde fez uma prova de conclusão e recebeu o diploma de 4ª série com mérito. Seu avô, homem público, o Sr. Felício Marcondes, teve um bom cargo político em Guarulhos (de 1891 a 1894, com o advento da República, o Governo Provisório nomeou quatro intendentes: Vicente Ferreira de Siqueira Bueno,Antônio Dias Tavares, Luiz Dini e Felício Marcondes Munhoz) e, dessa forma, trouxe escola e outras melhorias para a região.
Em relação à "Festa em Louvor a Nossa Senhora do Bonsucesso", uma das mais antigas do Brasil (segundo a Igreja Católica, essa festa é realizada desde 1741), diz que também passou por alterações. Durante todo o mês de Agosto, a população 'decretava' feriado, e trabalhava pelas obras da igreja que se encarregava de preparar a comilança. O povo capinava toda a região ao redor da igreja e fazia a manutenção (na primeira segundafeira
de mês de Agosto, realiza-se o Dia da Carpição). As pessoas que sofriam de enfermidades faziam promessas, trocando seu trabalho pela cura. A terra colhida, considerada sacra, era levada para ser misturada à lavoura, garantindo assim a fertilidade da terra e a boa colheita por todo o ano. Servia, também, como remédio para todas as enfermidades. Essa tradição perdura até os dias de hoje. Conversar com D. Neiza dá a sensação, de fazer parte da história e reviver momentos que o tempo deixou para trás.
Por Yonar Peixoto

Um comentário:

N@ndinhÁ disse...

Muito boa essa história, me ajudou muito com minha pesquisa. Se eu puder vou passar na casa dessa senhora pra poder concluir minha pesquisa! É bom saber que nosso bairro tem uma história importante para o estado de SP! E saber que essa histórias não são simples boatos também é muito legal! bjus